domingo, 11 de setembro de 2011

Wenceslau Cifka



 
      Finalmente , o terceiro destes notáveis fotógrafos de meados do sec xix, Wenceslau Cifka, do qual possuo também um conjunto de originais de época, alguns provávelmente inéditos.
Aos possíveis interessados deixo o meu mail para contacto :

Wenceslau Cifka

Tscheraditz, Boémia, 1811 - Lisboa, 29-03-1884
Cifka terá chegado a Portugal por ocasião do casamento de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha com a Rainha D. Maria II, como uma espécie de conselheiro de arte, devido aos seus conhecimentos de arqueologia e obras de arte, tendo adquirido preciosas colecções para a galeria do Rei.
Dedicou-se a diversas actividades artísticas, sendo a primeira como fotógrafo, tendo sido um dos pioneiros em Portugal e aberto, em Lisboa, um dos primeiros estúdios fotográficos. Embora ainda utilizasse o daguerreotipo foi, progressivamente, utilizando novas técnicas, tendo ido aperfeiçoar-se a Paris. Efectuou diversas exposições de fotografia e, algum tempo depois, tornou-se fotógrafo da Casa Real.
Após uma viagem pela Europa, juntamente com o Rei, ambos reforçaram o seu gosto pela cerâmica. Cifka passou a dedicar-se à faiança artística e influenciou o Rei, que também experimentou esta arte. Cifka cozeu a maior parte das suas peças na Companhia Fabril de Louça, às Janelas Verdes (depois Companhia Constância), mas não interferiu na produção da mesma. Efectuava peças a seu gosto, sem utilidade prática, preocupando-se especialmente com a forma. Sem formação como ceramista, não primou pela originalidade, tendo sido influenciado por diversos estilos, que misturou, e copiado a majólica italiana renascentista, usando o "istoriato" e o "grotesco", este último bastante apreciado em Portugal.
Utilizou a gravura na cerâmica, possuindo uma das maiores colecções oitocentistas de gravura do País. Grande apreciador de Rafael, utilizou-o como modelo em vários pratos.
Além de pratos produziu jarros, gomis, urnas e taças, com concepção e decoração renascentista, algumas vezes relevada, utilizando outras influências, como de Wedgwood, Palissy ou da porcelana chinesa. Cifka passou a utilizar muito formas de animais nas suas peças (perús, cisnes, galos, patos, peixes, tartarugas, entre outros) mas, de entre as diversas obras trabalhadas por este ceramista, são os violinos em faiança que mais têm suscitado a curiosidade dos coleccionadores.
São atribuídos a este artista dois tipos de azulejo de figura avulsa e relevados, existentes no Palácio Nacional da Pena, produtos de uma encomenda exclusiva.
D. Fernando II, seu amigo e protector, adquiriu a maior parte das suas obras e foi representado em muitas delas (tanto em fotografia como em peças de cerâmica).
Este artista também vendeu peças em exposições nacionais e internacionais.
Wenceslau Cifka foi, igualmente, desenhador, pintor, ceramista, litógrafo, esmaltador e professor em casas de famílias nobres, tendo coleccionado desenhos de diversos artistas (colecção conhecida por "Album Cifka").



Exposições:
Exposição Universal de Paris, Paris, 1878;
Exposição Portuguesa, Rio de Janeiro, 1879;
Exposição "Wenceslau Cifka: ceramista, litógrafo e esmaltador", Palácio Nacional da Pena, Sintra, 1949;
Exposição "Cifka - obra cerâmica", Museu Nacional do Azulejo, Lisboa, 1993-94.

Teve várias condecorações, entre as quais o hábito de Cristo, que usava, assim como cargos régios (Fotógrafo da Casa-Real, 1855; Reposteiro da Real Câmara, 1859; Cavaleiro da Ordem de Cristo, 1864) .Medalha de ouro, Exposição Portuguesa, Rio de Janeiro, 1879.




Wenceslau Cifka (1811-1883) natural de Praga veio para Portugal na comitiva que acompanhava D. Fernando de Saxe–Coburgo-Gotha quando este chegou a Lisboa em 1836. D. Fernando mandou construir o Palácio da Pena em Sintra e Wenceslau Cifka fotografou-o em daguerreótipo. Pelo menos um desses daguerriótipos resistiu até hoje e foi adquirido recentemente pelo Estado Português - Centro Português de Fotografia para vir enriquecer o património da fotografia portuguesa.

Cifka era sensível às artes e muito cedo se tornou um apaixonado da fotografia. Estabeleceu-se como fotógrafo em 1848, em Lisboa num 1.º andar do n.º 31 da Rua Direita das Necessidades. Muda-se para a Rua Nova dos Mártires em 1854 e para a Calçada das Necessidades em 1862. Em 1865 já tinha novamente mudado de casa encontrando-se a trabalhar num 4.º andar do n.º 6 da Calçada da Pampulha. Participou na exposição de Londres, de 1856 e na Exposição Universal de Paris, em 1867. Foi com este austro-húngaro que aprenderam fotografia entre outros, os portugueses Carlos Relvas e os irmãos José Nunes da Silveira e Joaquim Goulart da Silveira, estes últimos oriundos dos Açores e que tinham aberto casa em Lisboa em 1861. Ofereceu em 1851 albuminas coladas sobre cartão ao Arsenal da Marinha. E sabe-se que ofereceu como prenda de casamento da infanta Maria Ana um álbum com vistas de Lisboa. A rainha D. Maria Pia também recebeu como presente de Cifka um álbum de fotografias com vistas de Lisboa, em 1862. Wenceslau Cifka foi pioneiro na edição de vistas estereoscópicas em Portugal..


Hospital D. Estefânia: património descartável

“Com respeito à criação de um hospital de crianças, um dever mais alto incita-me a uma mais bela homenagem à memória da Rainha – ideia que nunca abandonarei. Espero dizer-lhe mais alguma coisa na minha próxima carta, mas não quero alongar-me mais, sem lhe agradecer a simpática e amigável cooperação que me promete”. Datado de 13 de Abril de 1860, o excerto pertence à intensa troca epistolar que D. Pedro V manteve com seu tio e confidente, Príncipe Alberto, marido da Rainha Vitória de Inglaterra. Troca epistolar que no seu conjunto constitui um belíssimo tratado sobre a amizade e, simultaneamente, o testemunho de um tempo, no olhar desassombrado de dois homens que gostariam de ter visto em Portugal algo que, ontem como hoje, muita falta nos faz: sensibilidade e bom-senso.
O hospital de crianças de que D. Pedro fala a seu tio nesta e em cartas subsequentes, nomeadamente por via de um extenso e detalhado memorandum sobre as características e os materiais a usar no complexo, seria o mesmo que viria a erguer-se em terrenos do Paço Real da Bemposta em memória da sua malograda mulher: o Hospital D. Estefânia, cujo projecto, de perfil inglês, muito ficou a dever ao aconselhamento de Alberto ao seu jovem sobrinho, e que ao longo dos seus 130 anos de funcionamento tem desempenhado um papel inestimável na prestação de cuidados de saúde à infância. E que constitui também, até pela sua singularidade, uma peça fundamental do património construído da cidade de Lisboa.
É este mesmo hospital que, tal como outros - S. José, Desterro, Capuchos, Santa Marta, Miguel Bombarda, instalados em conventos extintos com áreas generosas em zonas centrais da cidade –, vê hoje ser-lhe dado guia de marcha para terrenos no vale de Chelas. O mesmo vale de Chelas que a prudência aconselharia a deixar livre de construção, inscrito como está entre as áreas de maior risco sísmico da capital: aí nascerá a planeada Cidade Hospitalar, recuperando a designação, de má fortuna no original, de Hospital de Todos-os-Santos. Os terrenos onde o D. Estefânia nasceu, esses, e tal como os outros, terão certamente o destino que mais previsível é no país em que vivemos: desaguar no insaciável mercado imobiliário, até que nada mais reste da memória da cidade.

D. Pedro, que tinha dos profissionais da política péssima impressão e pior opinião, não se espantaria com a forma como, hoje, outros profissionais da política do seu país decidem hipotecar o futuro, nomeadamente por via da sua estranha aversão à palavra manutenção, seja ela de casas, estradas e pontes ou de equipamentos públicos. Em 1858, Wenceslau Cifka fotografou-o de braço dado com D. Estefânia, numa imagem que ganharia trágico cunho premonitório porque um e outro morreriam pouco depois: ela em 1859, ele em 1861. A propósito dessa imagem, Maria Filomena Mónica escreveu que ambos “pareciam dois anjos expulsos do Paraíso”. O Paraíso, como sabemos, também não mora aqui e talvez isso explique por que razão o legado de ambos pouco ou nada importa aos políticos que temos hoje, nestes tempos em que tudo é descartável


Palácio da Pena


       O Palácio Nacional da Pena foi construído em 1836 por ordem de D. Fernando de Saxe Coburgo-Gotha, marido da Rainha D. Maria II. Cognominado "rei-artista", desenvolveu uma paixão por Sintra que o levou a ordenar a reconstrução das ruínas do Convento da Pena de raiz. O fotógrafo Wenceslau Cifka fazia parte da comitiva do Rei D. Fernando II na sua visita a Portugal. A pedido do rei, e após a conclusão da construção, Cifka produz este registo, em 1848. Para isso, utilizou o primeiro processo fotográfico existente: o daguerreótipo. De uma extraordinária qualidade e nitidez, a daguerreotipia, que consistia numa imagem positiva e negativa, formada sobre uma fina camada de prata polida e aplicada sobre uma placa de cobre sensibilizada com vapor de iodo, foi considerada um milagre da ciência e fazia as delícias da burguesia.
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"É PREcisamente da fachada do palácio da pena que possuo aquele que será talvez o mais importante original de fotografia antiga da minha coleção"



 




texto:CPF)

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